UMA ENERGIA DESCONTROLADA
O comportamento humano é, em grande parte, influenciado pelos sentimentos; emoções diferentes produzem resultados diversos. Algo que todos podem sentir é a raiva, responsável por aumentar as atividades dos processos corporais e bloqueio de outros sentimentos ou capacidades.
Todos, em alguns momentos, ficam irritados e sentem, em si, este fenômeno reativo de causas específicas; se ocorrem sem fundo patológico, são transitórios e casuais.
Em contrapartida, o narcisista é perverso, incapaz do altruísmo e de sentir amor. Ao defrontar-se com as decepções, sua raiva gera ressentimento e desejo incontrolável de vingança; trata este sentimento de forma implacável, inflexível e somente será saciado após o seu plano vingativo ser colocado em prática. Odiar é algo muito mais fácil.
Diante desta argumentação, podem surgir questionamentos: A raiva é algo destrutivo, natural e acontece somente com o ser humano?
Num indivíduo reconhecido pela normalidade (atitudes moderadas), os episódios de fúria duram poucos segundos e acontecem nos momentos de desconforto exacerbado, talvez sejam reações naturais para extinguir a tensão interna e retornar ao equilíbrio. O estado de irritação demanda um pouco mais de tempo para ser extinto.
Diferente das crenças antigas sobre a origem da raiva estar associada ao sangue ou a bile (um suco produzido pelo fígado e armazenado na vesícula biliar), na realidade está ligada aos processos neuronais e afeta muitas estruturas cerebrais, desde o tronco cerebral (áreas mais antigas do cérebro), responsáveis pelas funções básicas como respiração, digestão, batimento cardíaco ou homeostase. Pode-se atribuir essas crenças devido a ligação direta desta região com os instintos e funções orgânicas fundamentais. As áreas do sistema límbico (mamífero, emoções) e também o córtex cerebral participam de todo processo.
A natureza preparou diversas ‘portas de saída’ da raiva através das expressões faciais, gestuais e verbais, mudança no tônus muscular esquelético ou pressão sanguínea.
Outros animais ‘sentem’ a raiva de forma análoga. Baseado no conhecimento atual e pesquisas que apontam estar ligada à insatisfação com o próprio resultado, pode-se afirmar que um leão, ao ter dificuldades de alcançar uma presa, passará por este sentimento — e mais adrenalina será liberada: energia de sobra acessível na tentativa de abater a presa. Algo capaz de trazer o entendimento dos motivos pelos quais existe uma reação natural das pessoas em se afastarem de sujeitos raivosos.
O exemplo oferecido trata de um mamífero, mas a mesma perspectiva será válida para os répteis. No homem, vantagem ilícita, pessoa amada ser cortejada, ataque à honra, são motivos de explosões e tragédias causadas pela cólera ligada à inveja ou ciúme.
Fato que nos liga novamente aos narcisistas, porque no reino animal apenas o ser humano possui estruturação na capacidade linguística e estes indivíduos são capazes de dissimular, apresentar emoções fingidas e renovar constantemente as suas habilidades. Vivendo numa paranoia megalomaníaca, procuram vencer a todo custo e vivem este ciclo vicioso.
Se no passado os gregos acreditavam ser o centro da raiva a vesícula biliar, atualmente os pesquisadores mostram uma rede muito mais complexa deste sentimento. Essas reações quase ‘vulcânicas’ se mostram salutares para o reequilíbrio orgânico, mas o estado de irritação mais prolongado gera estresse e pode causar outros problemas.
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